Raiva

Quando os outros nos levam a irritarmo-nos com eles - com a sua insolência, injustiça, falta de escrúpulos - então o que acontece é que exercem poder sobre nós, alastram, devorando-nos a alma, pois a irritação é como um veneno ardente, que destrói todos os sentimentos brandos, nobres e equilibrados, e nos rouba o sono. Acossados pela insónia, acendemos a luz e irritamo-nos com a irritação, que se instalou dentro de nós como um parasita que nos explora e esgota. Não só nos sentimos furiosos pelo dano em si, como também pelo facto dele se desenvolver autonomamente dentro de nós, pois enquanto nos sentamos à beira da cama, com as fontes a latejar, o causador distante mantém-se indiferente ao poder destrutivo da irritação, cuja vítima somos nós.
excerto do livro "Comboio Nocturno para Lisboa" Pascal Mercier
 
 

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